Qual a importância do registro no mercado de crédito?

Sumário do artigo

Este artigo foi inicialmente publicado no Finsiders.

Importância do registro no mercado de crédito

Se alguém me pedisse para responder essa pergunta em 140 caracteres, minha resposta seria: porque vai ser mandatório por lei e isso vai garantir aos investidores melhores formalizações em suas garantias de recebimento (até sobrou espaço).

E, apesar de ser verdade, essa justificativa não tem a força necessária para explicar a real importância do registro. Pelo menos, não para mim.

Quem acompanha o movimento das fintechs ou até mesmo as mudanças regulatórias que vêm sendo promovidas pelo Banco Central para a construção do Novo Mercado de Crédito deve saber que, desde junho de 2021, o registro de alguns ativos financeiros já é obrigatório no Brasil.

E a tendência é que nos próximos meses e anos, 100% do que é comercializado no mercado de crédito brasileiro seja registrado em uma entidade, com cobertura total no país e que seja acessível a quem quiser realizar uma consulta.

E você pode até pensar: “aff, mais burocracia”, só que não. Esse é um movimento transformador super importante. Te dou uma lista de razões.

Decifra-me ou te devoro

Em primeiro lugar, os mercados de crédito se alicerçam em informações. Um credor sempre vai querer saber com quem está fazendo negócio: qual seu histórico? Que tipo de operações ele já realizou no passado? Os ativos que são utilizados na operação são únicos, individualizáveis e, principalmente, realmente pertencem a ele?

Nesse sentido, o registro dos ativos financeiros (por exemplo, de uma duplicata, que é o documento número 1 nas vendas b2b no Brasil) é importantíssimo, pois permite saber se aquele objeto é único e quem é o real titular daquele objeto (ou do direito financeiro atrelado a ele).

Assim, em um mundo em que informação é ouro, ter um “cartório” de registros online, tecnológico, acessível, eficiente e realmente barato ajuda credores a operarem com muito mais facilidade e segurança.

Dois: o registro é uma proteção para quem o faz. É, possivelmente, a maior segurança que um credor tem de que as obrigações do devedor serão cumpridas.

No direito, o registro tem um efeito chamado de erga omnes. Isso significa que ele se impõe a todos, independente de conhecerem ou não o que foi registrado. Isso é poderosíssimo e é um baita aliado dos credores.

Terceiro, um mercado que registra é um mercado mais eficiente. Um dos problemas de um mercado informal, sem bons registros das operações e com pouco histórico organizado, é que os maus pagadores conseguem se beneficiar das assimetrias existentes. Aí, é aquilo que todos conhecemos: uns poucos espertos fazem lambança, o mercado inteiro precifica o risco, a conta fica mais cara e chega para quem paga direito. É simplesmente péssimo.

Grosso modo e numa conta simplista, o custo de registro (custo unitário X o número de operações registradas) tem que ser um % do custo do risco de se operar em determinado mercado (% de fraudes e prejuízos que seriam evitados se houvesse registro).

Como quem acompanha junto com o Banco Central essas discussões, posso afirmar que o registro traz muitos benefícios para o mercado em geral.

Por fim, modernizar é preciso

Mercados obscuros, com pouca informação e elevado nível de informalidade são “afugentadores” de capital, sobretudo, em um mundo mais conectado e ágil.

Se o Brasil deseja manter-se competitivo no cenário global, fomentar o florescimento da competição e que cada vez mais uma parte relevante do mercado não esteja concentrado em 4 ou 5 grandes players, precisa modernizar-se. E o registro centralizado digital é parte inevitável desse processo.

E fica o lembrete para nós que iremos construir essas infraestruturas do mercado: transformar burocracia em algo importante, necessário, simples e, principalmente, gerador de valor é um desafio. E tenho certeza de que as pessoas certas conseguirão transformar essa realidade no Brasil.

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